Série: estratégias de gestão para a nova era digital – Parte 3


No segundo artigo da nossa série “Estratégias de gestão para a nova era digital”, discutimos como a inovação aberta pode ser uma ferramenta poderosa para organizações que buscam competitividade em um ambiente digital em constante evolução. Exploramos a cocriação estratégica com stakeholders como um caminho para impulsionar a inovação e criar oportunidades de negócios. Agora, no terceiro artigo, aprofundamos como a era digital está transformando o planejamento estratégico e a gestão financeira, trazendo uma nova dimensão de agilidade e precisão para as decisões corporativas.

No cenário atual, caracterizado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, elementos da chamada era VUCA, o planejamento estratégico e a gestão financeira exigem uma transformação profunda. Este terceiro artigo amplia a discussão sobre como a transformação digital está revolucionando esses processos, proporcionando às empresas uma capacidade inédita de tomar decisões ágeis e precisas.

A nova era do planejamento estratégico

O planejamento estratégico, uma prática essencial na gestão empresarial, historicamente se baseou em previsões e análises baseadas em dados passados. No entanto, à medida que a transformação digital avança, as empresas estão adotando tecnologias emergentes para moldar seu planejamento estratégico de maneira mais dinâmica e responsiva.

Peter Drucker, considerado o pai da administração moderna, já afirmava que “a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”. 

Com o advento da inteligência artificial (IA) e do machine learning, essa máxima se torna ainda mais aplicável. Essas tecnologias permitem que as empresas não apenas prevejam cenários futuros com maior precisão, mas também criem estratégias proativas baseadas em análises preditivas. Segundo Kaplan e Norton (1996), criadores do Balanced Scorecard, as organizações precisam integrar indicadores financeiros e não financeiros em seus processos de planejamento estratégico para alcançar um desempenho sustentável. Com a transformação digital, essa integração se torna mais complexa e abrangente, envolvendo dados em tempo real e análises avançadas que possibilitam uma visão holística e ágil do ambiente de negócios.

Gestão financeira na era digital

A gestão financeira está no centro das transformações digitais. No passado, as decisões financeiras eram baseadas em relatórios financeiros periódicos e processos orçamentários anuais. Hoje, as empresas têm acesso a uma vasta quantidade de dados em tempo real, que permitem um controle financeiro mais rigoroso e decisões mais informadas e oportunas.

De acordo com Brigham e Ehrhardt (2017), autores de Financial Management: Theory & Practice, a gestão financeira deve equilibrar os objetivos de curto prazo com as metas de longo prazo, utilizando ferramentas que integrem dados financeiros e operacionais para otimizar o desempenho organizacional. Com o uso de big data, as empresas podem capturar insights profundos sobre o comportamento do mercado e do consumidor, otimizando a alocação de recursos e ajustando suas estratégias de acordo com as mudanças no ambiente externo.

Dados em tempo real e tomada de decisão ágil

Um dos principais impulsionadores da transformação digital na gestão financeira é a capacidade de acessar e analisar dados em tempo real. Isso permite uma visibilidade sem precedentes sobre o desempenho financeiro da organização, possibilitando ajustes rápidos nas estratégias operacionais e financeiras. Segundo Andrew McAfee e Erik Brynjolfsson (2012), autores de Big Data: The Management Revolution, o uso eficaz de big data pode levar a uma tomada de decisão mais rápida e precisa, oferecendo uma vantagem competitiva significativa.

Além disso, o uso de dashboards e ferramentas de Business Intelligence (BI) permite que gestores acompanhem indicadores-chave de desempenho (KPIs) em tempo real. Isso não apenas melhora a eficiência operacional, mas também fortalece a capacidade da empresa de responder a desafios e oportunidades emergentes. De acordo com estudos conduzidos por Davenport e Harris (2007), autores de Competing on Analytics: The New Science of Winning, empresas que adotam uma abordagem analítica na gestão estratégica tendem a superar seus concorrentes em termos de desempenho financeiro e operacional.

Análises preditivas: um olhar para o futuro

As análises preditivas têm se tornado uma ferramenta poderosa na gestão financeira e no planejamento estratégico. Utilizando algoritmos de machine learning e IA, as organizações podem antecipar tendências de mercado, prever comportamentos de consumo e identificar potenciais riscos antes que eles se concretizem. Segundo um estudo publicado por Gopalakrishnan e Damanpour (1997), a inovação tecnológica, incluindo análises preditivas, é um fator crítico para o sucesso organizacional em ambientes competitivos e dinâmicos.

Além disso, o uso de análises preditivas na gestão financeira pode melhorar a precisão dos processos orçamentários e de previsão de receita, permitindo uma alocação mais eficaz de recursos. Isso é crucial em um ambiente onde as margens de erro são cada vez menores e as expectativas dos stakeholders, cada vez maiores.

Exemplos de transformação digital na prática

Vários líderes globais têm implementado com sucesso a transformação digital em suas estratégias financeiras e organizacionais. Um exemplo marcante é Andy Jassy, CEO da Amazon, que foi instrumental na expansão da Amazon Web Services (AWS), promovendo a adoção massiva da computação em nuvem. Sob sua liderança, a AWS não só revolucionou o modelo de negócios da Amazon, mas também capacitou inúmeras outras empresas a se transformarem digitalmente, oferecendo infraestruturas flexíveis e escaláveis para inovação e crescimento.

Outro caso relevante é o da IBM sob a liderança de Arvind Krishna, que impulsionou a transformação digital da empresa focando em inteligência artificial e computação em nuvem híbrida. Krishna reforçou a estratégia da IBM de integrar IA e machine learning em suas operações internas e nos serviços oferecidos aos clientes, destacando como essas tecnologias podem desbloquear novos níveis de eficiência operacional e tomada de decisão baseada em dados. Sob sua direção, a IBM também adquiriu a Red Hat, fortalecendo sua posição como líder em soluções de nuvem híbrida.

Conclusão e preparação para o futuro

À medida que as organizações continuam a navegar pela complexidade do mundo digital, a capacidade de integrar planejamento estratégico e gestão financeira com tecnologias emergentes se torna cada vez mais essencial. Empresas que adotam essas ferramentas e abordagens estão mais bem posicionadas para tomar decisões ágeis e informadas, garantindo um desempenho robusto em um ambiente de negócios incerto.

No próximo e último artigo da nossa série “Estratégias de gestão para a nova era digital”, exploraremos como a tomada de decisão baseada em dados está revolucionando a gestão estratégica. Discutiremos o papel da big data e dos dashboards em tempo real na criação de uma visão mais clara do ambiente de negócios, ajudando as organizações a identificar oportunidades e mitigar riscos de forma eficaz. Não perca!

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Referências

  1. Davenport, T. H., & Harris, J. G. (2007). Competing on Analytics: The New Science of Winning. Harvard Business Review Press.
  2. Brigham, E. F., & Ehrhardt, M. C. (2017). Financial Management: Theory & Practice. Cengage Learning.
  3. Kaplan, R. S., & Norton, D. P. (1996). The Balanced Scorecard: Translating Strategy into Action. Harvard Business Review Press.
  4. McAfee, A., & Brynjolfsson, E. (2012). Big Data: The Management Revolution. Harvard Business Review.
  5. Gopalakrishnan, S., & Damanpour, F. (1997). A Review of Innovation Research in Economics, Sociology, and Technology Management. Omega, 25(1), 15-28.
  6. Drucker, P. F. (1993). The Practice of Management. HarperBusiness.
  7. Jassy, A. (2021). Insights on the Evolution of Cloud Computing. In Amazon’s AWS Leadership Principles (Speech).
  8. Krishna, A. (2020). IBM and the Cloud: Embracing a Hybrid Future. Speech at IBM Think Conference.
  9. Nadella, S. (2017). Hit Refresh: The Quest to Rediscover Microsoft’s Soul and Imagine a Better Future for Everyone. Harper Business.
  10. Immelt, J. R. (2016). The CEO of General Electric on Sparking an American Manufacturing Renewal. Harvard Business Review, 94(6), 44-49.